Tudo começou às nove e meia da manhã de sábado depois de 2 horas de sono, quando, apesar das minhas súplicas, a buga e a antónia não me deixaram dormir mais. Com muita dificuldade arrastei-me para o chuveiro e depois para o traje académico que eu tinha descoberto na serenata estar-me apertado. Confirmei. Estava mesmo apertado. Meti a pasta debaixo do braço e a capa ao ombro e desci à Taberna, engoli um covilhete e uma garrafa de água e fui de abalada para a minha missa da benção das pasta que este ano teve lugar... vejam lá se adivinham... nã, não conseguem...
A missa foi na fábrica das cuecas na zona industrial de vila real!
Ah pois é! Não é para todos! Só alguns eleitos é que merecem que uma parte tão importante da sua vida académica aconteça numa antiga fábrica de cuecas!
À chegada não houveram quaisquer dúvidas, o aglomerado populacional e as cuecas vermelhas pintadas na fachada do edíficio deram imediatamente a entender que aquele seria o local certo. Depois de lutar contra o formigueiro humano lá consegui entrar. Lá estava o Sr. Bispo a rezar e missa para centenas de pessoas que não lhe ligavam nenhuma e que se abanavam continuamente com o livro dos cânticos. E tinham razão, para além da sumidade eclesiástica não ser a mais cativante, sendo até antipático e extremamente chato, estava um calor infernal. Mesmo com as janelas quase todas abertas não havia quem lá conseguisse estar, tudo suava em bica, suspirava e abanava-se. Agora imaginem isto de traje... bonito, ein?
Depois de estar 5 minutos a assistir à celebração lembrei-me dos meus pais e fui procurá-los.
Encontrei os pais da Sónia, da Mónica, da Buga, enfim, os pais de toda a gente menos os meus.
Passado uma hora de intensa procura e várias chamadas para o telemóvel do meu pai, lá achei a minha mãe despreocupadíssima a cantar o "louvai senhor louvai". (o meu pai tinha ido apanhar ar como aliás faz em todas as missas desde que eu tenho memória- no coments)
De ânimo renovado, até porque assim sempre tinha boleia para casa, fui ter com o resto dos finalistas que com ar infeliz se abanavam e às pastas num ritmo frenético. Com muitas dores de pés, enquanto observava o tecto cheio de tomadas de electricidade-certamente pertencentes às máquinas de corte e costura das cuecas-, lá tive que levar com o Bispo a dizer que nos calássemos e que só as criancinhas é que se portavam assim e lá lá lá. Tive também o prazer de confirmar que toda a fábrica parecia uma estufa havendo condensação em todo o lado, no tecto, no chão, nas paredes e no meu cabelo. A muito custo, lá sobrevivi à missa.
No fim voltei a perder os meus pais e sempre que dizia isto as pessoas riam-se e eu não percebia porquê. 20 chamadas depois descubro que ninguém até então atendia porque o meu pai, sim, aquele que não foi à missa, descobriu um stand de carros e por lá ficou a babar-se por entre jantes e capôs.
Lá fomos almoçar. Entretanto o meu pai teve tempo de partir uma garrafa em minha casa espalhando um litro de vinho tinto pelo chão e pela parede.
A melhor parte do almoço foi descobrir que acabar o curso é motivo para se receber prendas. Se eu soubesse isto já tinha acabado o meu mais cedo!!! LOL!
De volta à fábrica das cuecas lá fui eu sem vontade e de cartola debaixo do braço para a imposição das insígnias. Entretanto tinha descoberto o paradeiro do meu padrinho. Estava em Lisboa. Sem padrinho e com uma tremenda dor de pés lá fui eu para a fila no meio das minhas ricas colegas de curso que só me falaram para pedir que eu fizesse o grito académico. À conta disso fiquei afónica.
Com umas insuportáveis dores de pés, vontade de fumar e de beber uma valente de uma cerveja resolvi abandonar o plano inicial de fazer uma jantarada em casa (deixando muita gente ogada por chilli), e fui relaxar para o centro paroquial de Constantim onde o coro tinha uma actuação e havia jantar já feito. Não conseguia cantar (maldito grito académico!), mas diverti-me imenso.
A título de conclusão posso dizer que este terá sido um dos piores dias da minha vida, num dos locais mas estupidos para se realizar uma cerimónia deste tipo.
Da próxima vez que tirar um curso não ponho os pés na missa da benção das pastas!
BIBA A FÁBRICA DAS CUECAS!
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