A C’sM consegui uma entrevista em exclusivo com a rapariga irritada, o seu advogado disse-nos que ela até apreciava a nossa publicação. Não a irrita, percebe? Disse-nos ele. A equipa deslocou-se então ao estabelecimento prisional de VR onde se encontra actualmente a arguida.
«Aquele estava a ser um dia mau. Sabe aqueles dias em que parece tudo correr no sentido contrário, em que não há maneira de controlar o cabelo, decidir o que vestir ou encontrar um bom lugar para estacionar? Fui comprar a vossa revista a um quiosque e estava alguém a comprar o último exemplar. O único pacote de leite que havia no frigorífico tinha passado de validade, no trabalho parecia que tinham anunciado o fim do mundo e que toda agente tinha desistido de trabalhar menos eu. Estava eu no Tasco do Mandrião a tentar ler o Jornal de Notícias e a pensar: mas que diabo, ele é só desgraças! Nem um a noticiazinha simpática sobre um cão que foi adoptado ou uma criança que plantou uma árvore. Nada! Fechei o jornal com violência e pousei-o na mesa. Apareceu logo o homem irritante a perguntar se podia pegar nele. Eu disse que sim e ele pegou no jornal, mas antes de ir para a sua mesa disse qualquer coisa sobre eu estar especialmente comestível nesse dia. Olhei para ele cega de raiva. Não soube como responder. Eu respondo sempre, sou daquele tipo de mulheres que insulta os condutores de carros quando eles mandam piropos e manda para sítios menos agradáveis os senhores que trabalham nas construções. Naquele dia fiquei muda. Mas não foi bem por não saber o que dizer, foi mais uma sensação… de ter já dito tudo… de os argumentos possíveis estarem completamente esgotados… de… de chegar ao fim de um caminho… levantei-me com violência e fui para casa. Não sabia o que ia fazer para casa, afinal ainda me faltava uma tarde de trabalho. Mas naquele momento era o único local possível. Quando cheguei comecei a lavar a loiça do pequeno-almoço furiosamente, depois sequei-a e depois arrumei-a. Foi então que a vi. Estava na gaveta dos talheres, era um facalhão enorme. Lembrei-me do dia em que a comprei. Lembrei-me de ter pensado mais tarde: mas para que raio quero eu uma faca deste tamanho? Nunca a vou usar! A não ser, é claro, que vá matar um porco! Lembro-me que na altura ri-me, eu a matar porcos! Cruz credo! Mas naquele dia não me ri. Nem um pouquinho. Naquele dia soube porque tinha comprado a faca. Meti-a na carteira a voltei à Tasca. Dirigi-me ao homem irritante. Ele olhou para mim, sorriu e disse qualquer coisa que eu não ouvi. Quando viu a faca na minha mão ficou com os olhos muito arregalados, fixados primeiro da faca e depois em mim.
«Aquele estava a ser um dia mau. Sabe aqueles dias em que parece tudo correr no sentido contrário, em que não há maneira de controlar o cabelo, decidir o que vestir ou encontrar um bom lugar para estacionar? Fui comprar a vossa revista a um quiosque e estava alguém a comprar o último exemplar. O único pacote de leite que havia no frigorífico tinha passado de validade, no trabalho parecia que tinham anunciado o fim do mundo e que toda agente tinha desistido de trabalhar menos eu. Estava eu no Tasco do Mandrião a tentar ler o Jornal de Notícias e a pensar: mas que diabo, ele é só desgraças! Nem um a noticiazinha simpática sobre um cão que foi adoptado ou uma criança que plantou uma árvore. Nada! Fechei o jornal com violência e pousei-o na mesa. Apareceu logo o homem irritante a perguntar se podia pegar nele. Eu disse que sim e ele pegou no jornal, mas antes de ir para a sua mesa disse qualquer coisa sobre eu estar especialmente comestível nesse dia. Olhei para ele cega de raiva. Não soube como responder. Eu respondo sempre, sou daquele tipo de mulheres que insulta os condutores de carros quando eles mandam piropos e manda para sítios menos agradáveis os senhores que trabalham nas construções. Naquele dia fiquei muda. Mas não foi bem por não saber o que dizer, foi mais uma sensação… de ter já dito tudo… de os argumentos possíveis estarem completamente esgotados… de… de chegar ao fim de um caminho… levantei-me com violência e fui para casa. Não sabia o que ia fazer para casa, afinal ainda me faltava uma tarde de trabalho. Mas naquele momento era o único local possível. Quando cheguei comecei a lavar a loiça do pequeno-almoço furiosamente, depois sequei-a e depois arrumei-a. Foi então que a vi. Estava na gaveta dos talheres, era um facalhão enorme. Lembrei-me do dia em que a comprei. Lembrei-me de ter pensado mais tarde: mas para que raio quero eu uma faca deste tamanho? Nunca a vou usar! A não ser, é claro, que vá matar um porco! Lembro-me que na altura ri-me, eu a matar porcos! Cruz credo! Mas naquele dia não me ri. Nem um pouquinho. Naquele dia soube porque tinha comprado a faca. Meti-a na carteira a voltei à Tasca. Dirigi-me ao homem irritante. Ele olhou para mim, sorriu e disse qualquer coisa que eu não ouvi. Quando viu a faca na minha mão ficou com os olhos muito arregalados, fixados primeiro da faca e depois em mim.
(cont.)
1 comentário:
Agora fiquei presa ao magazine, ai ai..beijo da lua
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