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quinta-feira, maio 18, 2006

expectativas


a torre construída de delicados filamentos de expectativas (tecidos por uma rara aranha quimérica oriunda do reino de morpheus), ruiu sem aviso para assombro da construtora. Após ter resistido (surpreendentemente), a inúmeras tempestades, tremores de terra e até a uma avalanche, bastou que uma pequena brisa soprada distraidamente na direcção errada fizesse cair sobre terra o insólito edifício. parecia que a vida estava a mandar um recado à construtora: o problema talvez não esteja nas intempéries mas sim na qualidade da construção... o material escolhido talvez? a construtora engoliu em seco e em vez de fazer o curso de engenharia civil voltou à leitura dos clássicos infantis especialmente aquele que conta a história dos três porquinhos que resolveram construir uma casa, o primeiro(...)

terça-feira, abril 04, 2006

"efectivamente escuto as conversas"

(na esplanada de um bar)
rapaz1- sabes, tentei contruir um blog depressivo...
rapaz2-sim, e então?
r1-não consegui...
r2-problemas com a net?
r1-não foi bem isso... não consegui escrever nada depressivo...
r2-isso foi pouco profissional da tua parte...
r1- pior! sempre que tentava escrever qualquer coisa, só me saiam piadas e mensagens positivas!
r2-bem, se calhar não estás deprimido?!
r1- pois se calhar não... mas não achas absolutamente trágico?
r2- o quê?
r1- um tipo como eu não estar deprimido...
r2- ???
r1- pensa bem: estou desempregado à sete meses, não sou bonito, não me sei vestir, as miúdas agem como se eu tivesse um sinete como os leprosos na idade média, vivo com os meus pais que já demonstraram, mais do que uma vez, que estão um bocadinho fartos de me ter lá por casa, o meu único amigo és tu, aliás nem sei como me aturas, se um dia mudas de cidade não tenho com quem tomar café, ninguém se ri das minhas piadas, nem tu! sou aquilo que se pode chamar de um incompetente social. e no entanto, não estou deprimido?! achas normal?
r2- nem um pouco! devias ser objecto de estudo antropológico...
r1- será que é aceitável um tipo defenestrar-se porque não está depressivo?
r2-seria uma infâmia, meu caro... e mais uma vez, pouco profissional.
r1- e será possivel eu ficar deprimido porque não consigo estar deprimido?
r2- se te esforçares o suficiente... ainda és capaz...
r1- ó pá não sei que faça...
r2-sabes? eu também não compreendo...
r1- que eu não esteja deprimido?
r2- não. não compreendo é como ainda te aturo...
(riram-se e mandaram vir mais finos e tremoços)

domingo, abril 02, 2006

in carmuue's magazine (VI)

"Rapariga irritada mata homem irritante"
(cont.)
(…)Eu estava à espera que ele lutasse, mas não. Acho que esteve incrédulo até ao último momento. Mas depois era tarde demais. Não foi fácil matá-lo. Primeiro, com aquele sangue todo a jorrar, nem conseguia ver bem o que estava a fazer, e depois aquela gente toda aos gritos… desconcentra qualquer um! Quando ele tombou na mesa pensei: a ti Maria fez canja! Se eu soubesse tinha almoçado cá!
No café só estava eu e o sr. Almeida, tinha fugido tudo como se eu fosse matar mais alguém depois daquele. Esta gente é doida! (pensei eu). Pedi ao sr. Almeida para chamar a polícia porque tinha deixado o telemóvel em casa. E sentei-me à espera deles. Lembro-me de ter pensado: Afinal sempre matei o meu porco!
Devo-o ter feito em voz alta porque o sr. Almeida perguntou: disse alguma coisa menina? E eu disse-lhe que não era nada, que estava a falar com os meus botões, que fosse para casa que aquilo estava tudo uma porcaria que ainda se sujava e que depois a sua mulher não ia gostar nada. Pedi-lhe ainda que entregasse as minhas desculpas à ti Maria, coitada, não merecia que eu lhe tivesse sujo o café todo. Se ao menos aquele porco tivesse sangrado menos… mas não… até depois de morto irritava!
A Sra. Repórter que saber se estou arrependida? Ai que até parece o juiz! Digo-lhe o mesmo que lhe disse a ele. Não estou, nem um pouco arrependida. Sabe, há um limite para a quantidade merdas (desculpe a expressão), que uma rapariga pode aguentar. Eu sentia sempre uma pressão muito forte em dar a entender que eu achava que tudo era uma brincadeira, que ele não me importunava nada, mas acontece que às vezes ele tinha o poder de me estragar os dias. E isso não se faz a uma rapariga.
Não, não me incomoda a ideia de ficar presa por um bom tempo. Acho que vou aprender a falar mandarim. Dizem que são precisos 10 anos para a prender a fazê-lo realmente. E convenhamos, que disponibilidade de tempo não será propriamente um problema, certo?» A rapariga irritada piscou o olho, apagou o cigarro e deu por encerrada a entrevista.
A rapariga irritada não parecia irritada.
Fim.

sábado, abril 01, 2006

in carmuue's magazine (V)

"Rapariga irritada mata homem irritante"
(cont.)
A C’sM consegui uma entrevista em exclusivo com a rapariga irritada, o seu advogado disse-nos que ela até apreciava a nossa publicação. Não a irrita, percebe? Disse-nos ele. A equipa deslocou-se então ao estabelecimento prisional de VR onde se encontra actualmente a arguida.
«Aquele estava a ser um dia mau. Sabe aqueles dias em que parece tudo correr no sentido contrário, em que não há maneira de controlar o cabelo, decidir o que vestir ou encontrar um bom lugar para estacionar? Fui comprar a vossa revista a um quiosque e estava alguém a comprar o último exemplar. O único pacote de leite que havia no frigorífico tinha passado de validade, no trabalho parecia que tinham anunciado o fim do mundo e que toda agente tinha desistido de trabalhar menos eu. Estava eu no Tasco do Mandrião a tentar ler o Jornal de Notícias e a pensar: mas que diabo, ele é só desgraças! Nem um a noticiazinha simpática sobre um cão que foi adoptado ou uma criança que plantou uma árvore. Nada! Fechei o jornal com violência e pousei-o na mesa. Apareceu logo o homem irritante a perguntar se podia pegar nele. Eu disse que sim e ele pegou no jornal, mas antes de ir para a sua mesa disse qualquer coisa sobre eu estar especialmente comestível nesse dia. Olhei para ele cega de raiva. Não soube como responder. Eu respondo sempre, sou daquele tipo de mulheres que insulta os condutores de carros quando eles mandam piropos e manda para sítios menos agradáveis os senhores que trabalham nas construções. Naquele dia fiquei muda. Mas não foi bem por não saber o que dizer, foi mais uma sensação… de ter já dito tudo… de os argumentos possíveis estarem completamente esgotados… de… de chegar ao fim de um caminho… levantei-me com violência e fui para casa. Não sabia o que ia fazer para casa, afinal ainda me faltava uma tarde de trabalho. Mas naquele momento era o único local possível. Quando cheguei comecei a lavar a loiça do pequeno-almoço furiosamente, depois sequei-a e depois arrumei-a. Foi então que a vi. Estava na gaveta dos talheres, era um facalhão enorme. Lembrei-me do dia em que a comprei. Lembrei-me de ter pensado mais tarde: mas para que raio quero eu uma faca deste tamanho? Nunca a vou usar! A não ser, é claro, que vá matar um porco! Lembro-me que na altura ri-me, eu a matar porcos! Cruz credo! Mas naquele dia não me ri. Nem um pouquinho. Naquele dia soube porque tinha comprado a faca. Meti-a na carteira a voltei à Tasca. Dirigi-me ao homem irritante. Ele olhou para mim, sorriu e disse qualquer coisa que eu não ouvi. Quando viu a faca na minha mão ficou com os olhos muito arregalados, fixados primeiro da faca e depois em mim.
(cont.)

sexta-feira, março 31, 2006

in carmuue's magazine (IV)

"Rapariga irritada mata homem irritante"
(cont.)
(...)A ti Maria tem razão, eu realmente vi tudo. Sabe, eu não costumo comer fora mas a minha Alice estava com os azeites nesse dia e disse-me que não havia almoço. Não sei como me lembrei de ir à Tasca do Mandrião, mas lá fui, a ti Maria cozinha duma maneira que me faz lembrar da comida da minha mãe. No fim de almoço bebi um cafezinho com cheiro ao balcão, a ideia era perguntar à ti Maria o que havia de fazer com a minha Alicinha, ela é mulher mais velha, havia de me saber aconselhar. Eu tinha visto a rapariga a sair, de rompante e percebi que tinha alguma coisa a ver com o que o homem irritante lhe tinha dito. Lembro-me que na altura até pensei : este tipo é um parvalhão! Quando ela voltou achei que algo mudara nela, estava estranha, como se tivesse os olhos vidrados. Caminhou lentamente até à mesa onde estava o homem a comer uma canja e como que em câmara lenta vi-a a tirar aquele facalhão da carteira e a espetar-lho no pescoço. Ela tinha muita força, é preciso muita força para matar assim um homem, eu sei porque estive na guerra e já vi muitos a morrer. Desatou tudo aos gritos, a correr, a fugir. Estava tudo doido, em pânico! Menos eu, eu e a rapariga. Ficámos os dois no café vazio. Ela olhou para mim com a faca ensanguentada na mão e disse: «desculpe lá incomodá-lo Sr. Almeida, mas acho que agora o Sr. devia chamar a polícia. Não se preocupe que eu espero por eles.» Sentou-se numa mesa, cruzou as pernas e acendeu um cigarro. Estava bonita, ela, naquele dia. Bem bonita.»
(cont.)

quinta-feira, março 30, 2006

in carmuue's magazine (III)

"Rapariga irritada mata homem irritante"
(cont.)
A C’sM tentou ainda contactar a mãe do falecido, mas esta encontrava-se indisponível para comentários, no entanto a D. Arminda, vizinha, prestou declarações: «Estou com muita pena da minha vizinha, sabe, ela não merecia isto. Sempre tão alegre, bem disposta, a animar a gente! Mas, verdade seja dita, ela também não merecia um filho daqueles. Com aquele espírito era mulher para gostar de viajar, de sair com as amigas, de namorar. Mas à conta daquele emplastro não podia fazer nada disso, a coitada. Onde é que já se viu, um homem daquela idade a viver com a mãe, a depender dela para ter as refeições a horas, para ter a roupa arranjada. É de desconfiar se um homem tem aquela idade e não houve mulher que o quisesse. Anda prái tanta mulher desesperada… No meu tempo, sabe, os rapazes iam para a tropa e saiam de lá homens! Foi o que faltou a este, sabe, uma temporada no ultramar. Isso é que eram tempos!».Na tentativa de averiguar os factos a equipa de reportagem tentou falar com as testemunhas do crime. A ti Maria, proprietária do café onde se deu o crime, diz que não viu nada «estava a assar uns choiriços para uns senhores que estavam naquela mesa acolá, não vi nada, mas falem como Almeida das cervejas, esse estava ao balcão se bem me lembro, deve ter visto tudo.» O Almeida das cervejas contou à C’sM: «Eu sou só da empresa de distribuição de cervejas, venho cá de vez em quando entregar uns barris. Mas sim, conhecia-os aos dois. A ele mais, estava sempre aqui e tinha sempre uma piada na ponta da língua. A ela menos mas tinha a ideia de uma moça simpática, educada, sempre com um sorriso na boca. Ultimamente sorria menos, mas nunca deixou de ser educada comigo. »
(cont.)

quarta-feira, março 29, 2006

in carmuue's magazine (II)

"Rapariga irritada mata homem irritante "
(cont.)

A C’sM (carmuue’s magazine), falou com alguns dos conhecidos da vítima que manifestaram o seu pesar pela morte do homem irritante. Patrício, que trabalhava com o homem disse ainda «Ele vai fazer falta cá no serviço, nunca conheci pessoa que soubesse tantas anedotas porcas, era um enchente de rir quando ele estava bem disposto. Se bem que admito que havia dias em que ele, bem, era um bocadinho difícil de aturar, chegava a ser irritante, sabe, com as suas teorias do arco-da-velha e os seus piropos às senhoras da limpeza. Houve até uma que se despediu e acho que as suas tiradas peganhentas tiveram alguma coisa a ver com isso. Aqui entre nós, se não fosse a rapariga irritada a fazer isto, não faltavam era candidatas! Ah pois, é! O tipo andava a pedi-las… a minha mulher até me proibiu de o levar lá a casa. Dizia-me sempre: Patrício não sei como aturas este pedante! E olhe que a minha Sãozinha é do mais paciente que há!»
O polícia encarregue do caso revelou à C’sM que não havia investigação qualquer a fazer. «Quando lá chegámos a rapariga estava sentada numa cadeira a fumar um cigarro, parecia estar muito calma. A arma do crime estava pousada em cima da mesa e pingava de sangue. Olhe, nunca vi tanto sangue na minha vida, e isto em vinte anos de carreira!!! O cadáver estava meio tombado sobre a mesa com o nariz enfiado na canja de galinha. Ele era sangue por todo lado, no cadáver, na parede, na canja, no Jornal de Notícias que estava ali aberto na secção de desporto e havia uma poça debaixo dele que parecia nunca parar de aumentar. Parecia saído de um filme de terror. Até tenho pesadelos com isso! Quando eu entrei a rapariga ofereceu-me um cigarro e eu disse que não, que não fumava. Ela respondeu: Também eu queria não fumar, mas esta vida, senhor agente, não está fácil… Era muito simpática a rapariga. Ainda tivemos a falar um bocado, aparentemente andou na universidade com a minha filha mas nunca foram grandes amigas. Eu percebo, a minha filha consegue ser irritante às vezes!»

terça-feira, março 28, 2006

in Carmuue's magazine

"Rapariga irritada mata homem irritante"

A tragédia abateu-se sobre a pacata cidade de Vila Real quando uma mulher assassinou um homem a sangue frio num café local. Conhecidos da vítima manifestam total horror e surpresa pelo acontecimento. A dona do estabelecimento, A Tasca do Mandrião, onde ocorreu a desgraça falou com a carmuue’s magazine (C'sM). «Olhe, eu já devia ter adivinhado que isto estava para acontecer. O homem irritante, andava mesmo muito irritante ultimamente, e ela, sabe, é das de pavio curto, ninguém se lhe pode dizer nada que ela responde à letra, nunca deixa ninguém ir sem troco… Ele até lhe achava piada ao jeito e dizia-me - Ó ti Maria, isto é amor, a sujeita diz que não, diz que não mas é amor! Pelo seu lado ela dizia-me, mexendo no café, Este tipo não tem emenda, Deus o ajude se um dia eu me chateio a sério! E daí, acho que nem Deus o ajuda, nunca vi coisa igual! Que homem irritante! Eu sorria e dizia-lhe que não ligasse, que ele era mesmo assim, deixá-lo ser desgraçado à maneira dele, homens irritantes como ele acabam sempre sozinhos, sem eira nem beira…Ele há-de ter o que merece, continuava eu a dizer. No início parecia funcionar, a rapariga irritada piscava-me o olho e dizia, tem toda a razão, ti Maria, ele nem merece que a gente se aborreça, e lá ia à vida dela. Mas depois…Mas olhe, que se eu pudesse ter evitado isto evitava. Não por ele, sabe, que era mesmo irritante e fazia-me a cabeça em água, e eu com tanto trabalho no meus estaminé e ele sempre a contar-me as suas histórias… que Deus ou o Diabo o tenham! Mas por ela, coitadita, tão boa moça, tão novinha, com uma vida pela frente, para o que lhe havia de dar…»

(to be continued)

sexta-feira, março 24, 2006

uma história como qualquer outra

rapariga conhece rapaz.
rapaz é tudo o que a rapariga gosta: soturno, estranho, é capaz de manter conversas sobre ficção científica, filosofia, filologia e termodinâmica.
rapariga está maravilhada.
com o tempo sem que se dê conta começa a pensar nele com alguma frequência, a frequentar sítios nos quais ele é habitué, a ler livros que ele gostaria, a pensar o que pensaria ele sobre filme que estava a ver no momento...
lentamente vai surgindo uma relação de amizade perfeitamente normal e saudável, pelo menos da parte do rapaz, a rapariga sente alguma dificuldade em controlar a sua obsessãozita, mas aparentemente ninguém repara...
nem o rapaz
e a rapariga suspira....
de repente, surge o momento revelação, pelo menos é o que o rapaz diz, que tem uma revelação para fazer à rapariga.
a rapariga sente um friozinho no estômago, "é agora, ele vai dizer que gosta de mim... iupi iupi! só pode senão ele nunca teria bebido a vodka do meu stilete naquele noite... só os apaixonados fazem isso (pelo menos é assim nos filmes)..."
então o rapaz revela, que está apaixonado... por uma amiga da rapariga...
a rapariga percebe então que há dois tipos de homens que bebem bebidas nos sapatos das mulheres: os apaixonados (nos filmes), e os bêbados que não se dão conta do que estão a fazer (na vida real)...
é evidente que o rapaz se inclui na segunda categoria.
a rapariga fica fodida.
passados uns bons anos durante os quais a relação esmoreceu e o contacto deixou de ser tão frequente, o rapaz voltou a parecer na vida da rapariga... um telefonema aqui, uma sms ali, um e-mail acolá...
a rapariga está orgulhosa de si. sente-se madura e resolvida. já não há vestígios de obsessão!
até que o rapaz diz que vai até à cidade da rapariga e diz que quer jantar com ela...
o friozinho no estômago volta, a incapacidade de concentração e a ansiedade também.
no dia a rapariga escolhe a roupa com mais cuidado e faz o risco nos olhos com especial mestria.
olha o resultado e gosta do que vê.
"é hoje que ele vai reparar em mim!", pensa a rapariga.
durante o jantar, por entre as quiches de legumes e o santal rad, o rapaz fala...
fala de filosofia, de termodinâmica, do trabalho, dos amigos, da família e do último livro de SF que leu...
a rapariga fica fodida.

quarta-feira, junho 22, 2005

Fúria de Rapunzel I

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Rapunzel percorreu céleremente furiosa o corredor a quase que ia ficando com uma trança presa num cinzeiro e depois numa costela-de-adão. Abriu a porta basculante assustando a recepcionista que entornou o cafézinho na saia às flores cor-de-rosa.
- Quero falar com o sr. doutor!- disse, imperativa.
- B-b-bom dia... com certeza, tem consulta para que horas?
- Não tenho consulta marcada.
- Bem, então temos de marcar uma- movendo-se lentamente e, depois de deitar uma olhadela triste para a saia manchada, abrindo a agenda- pode ser para a semana?
- Nem pensar, tem de ser hoje!
- Mas... minha senhora- agora olhando-a de alto a baixo, por todo o comprimento das tranças com um olhar desconcertado- tem de ser com hora marcada... o sr. doutor é um homem muito ocupado!
- EU QUERO FALAR COM ELE HOJE!
- M-m-m-mas...
-Deixe estar, que eu trato disto!- E depois de desentalar as tranças debaixo da porta basculante entrou pelo consultório sob os protestos tímidos da recepcionista florida. Encontrou uma sala com uma mesa, um divã (tá claro!), e atrás da mesa um cadeirão onde um homem de meia idade fumava um cigarro de estranho aroma. O homem saltou do cadeirão e escondeu o cigarro.
- Que faz aqui? Quem a deixou entrar?
- Preciso de falar consigo!
O médico, já recomposto e apagando o cigarro disse pausadamente:
- As consultas só começam daqui a meia hora.
Rapunzel baixou os braços, deixou cair as tranças num estrondo e levou as mãos à cara começando a soluçar.
(to be continued)